HISTÓRIAS DA MINHA INFÂNCIA E JUVENTUDE (1)
DOS DIAS PASSADOS EM SUBSERRA E NA MOUCHEIRA
Hoje decidi contar-vos uma história das muitas da minha meninice, dos tempos que ia passar um ou outro dia ao casal onde vivia a minha avó paterna, Aldegundes Maria, e onde criou o meu pai, tios e tias, bem próximo à aldeia de Subserra (Alhandra) e que se chamava Casal do Paneiro de Baixo, bem cerca da mata da Moucheira (onde colhíamos o tradicional pinheiro de Natal, uns medronhos e, numa fonte de água límpida e fresca sempre havia avencas…).
Pois bem, o Casal Do Paneiro era uma construção tradicional, de pedra, telha de canudo, com uma ampla cozinha com chão de terra batida, um grande formo, e mais 3 divisões se não me falha a memória, sendo que a que estava mais virada para o Tejo, permitia uma vista fantástica a era o lado onde a avó tinha um lindo jardim. Tinha um grande poço e uma figueira onde montávamos um baloiço para nos divertirmos.
Íamos no autocarro da Lopes e Matos e depois Boa Viagem até uma paragem que ficava entre A-de-Freira e São João dos Monte e depois eram uns bons quilómetros a subir, por caminhos ditos de pé posto para evitar ir a Subserra. Mas lá íamos felizes e contentes. Juntávamos a família mais próxima e passávamos algum tempo com a avó.
Do cume da Moucheira havia uma linha vermelha que ninguém passava: era a pedreira da então Cimento Tejo (Cimpor). De quando em vez, na crista do monte aparecia um homem comum bandeira vermelha, a acenar e a gritar Fogo! Fogo! Sabíamos, assim, que em breve, haveria explosões na pedreira e que era a altura certa para os abrigarmos no quarto ou na cozinha da avó Aldegundes. E sim lá estava a primeira explosão a ecoar e pedaços de pedras a voar e a baterem com força nas telhas que nem sempre aguentavam o impacto.
Era assim duas vezes por dias… Depois, voltávamos ás brincadeiras e até o gato que a Avó tinha e era um charmoso alinhava nas nossas caminhadas Moucheira adentro ou nas vindas até ao largo principal de Subserra e até à vacaria onde trabalhavam o tio João Forte e a tia Irene. Passaram quase 50 anos e, fechando os olhos, é como se tivesse sido ontem.
António Lúcio
26/10/2022