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AS MINHAS VIAGENS

HISTÓRIAS DA MINHA INFÂNCIA E JUVENTUDE (13)

REGAR AS PLANTAS NA HORTA

17.02.23 | António Lúcio / Barreira de Sombra

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Como sabem, a minha infância e adolescência foi passada, vivida, nos Cachimbos e o meu pai e o meu avô António levavam algumas propriedades de renda, entre elas a Pera Longa às Ladaínhas (Seramena).

Para além das habituais culturas de sequeiro, de cereais à batata e ao grão de bico, havia por costume ter uma horta na parte final da propriedade, já mais próxima a Seramena,  onde se cultivavam as hortícolas habituais, couve, nabos, tomateiros, pimenteiros, feijão verde e até melões e melancias.

Para se ter horta é necessário ter água, a qual era proveniente de um regato que descia da encosta da serra onde se encontra o forte de Alqueidão e que era medianamente suficiente e corrida quase todo o ano.

O meu pai e o meu avô, para retirarem o máximo de proveito dessa água, que a bem dizer era escassa e tinha de ser bem aproveitada, faziam um pequeno pego, aprofundando a zona central do leito, construindo uma caldeira, que era rematada com um murete em lama e deixando uma abertura para que a água se escoasse sempre que a caldeira enchesse.

Como é que retirava a água para a rega? Pois com recurso ao ancestral método da picota ou cegonha, engenho construído em madeira, com uma vara longa e de onde pendia um balde metálico capaz de levar uns bons 20 litros de água que, depois, era vertida para uma caleira e encaminhada pelos regos para cada talhão de cada espécie.

A água era encaminhada rego a rego até que este ficasse cheio e eu, de sachola na mão, abria ou fechava os respetivos regos, com os pés bem mergulhados na água, que isso de botins de borracha eram modernices que ainda não entravam nos pés (até porque seriam caros) e era muito mais gira arregaçar as calças até aos joelhos e no final lavar os pés num balde de água.

Era uma tarefa engraçada e que o meu pai ou o meu avô me deixavam fazer sem problemas até porque eu gostava bastante dessa tarefa.

E quando chegava a altura da colheita de algumas das novidades, era uma alegria.

Apanhar o feijão verde ou um lombardo para a minha mãe fazer uma boa sopa…

Hoje tudo é diferente.

António Lúcio, Sobral de Monte Agraço, 17 de fevereiro de 2023