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AS MINHAS VIAGENS

MIRANDA DO DOURO – UM PARAÍSO NATURAL E MONUMENTAL POR DESCOBRIR

24.02.20 | António Lúcio / Barreira de Sombra

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“Un cachico de cielo na tierra”

De Lisboa (nosso ponto de partida) a Miranda do Douro são pouco mais de 500kms e cinco horas de viagem, com utilização da A1 até Torres Novas e A23 até á bela cidade da Guarda e, posteriormente, pelo IP 2 e IC5, até se atingir esta monumental cidade, num percurso recheado de magníficas paisagens, com a majestosa presença do Rio Douro e das suas fragas com alguns miradouros de onde se avistam paisagens de cortar a respiração.

Para quem gosta de passear, aconselhamos que a estadia em Miranda do Douro não seja inferior a 3 dias para poder desfrutar dos muitos encantos desta terra e das suas gentes, com pontos de interesse como o Parque do Douro Internacional (existem penhascos com 250 metros de altura acima do nível do rio) que é uma das suas grandes atracções, como o sejam também os seus Pauliteiros ou as amendoeiras em flor…

Não podemos deixar de referir a necessária visita à cidade entre muralhas, aos seus Museus, à Sé Catedral ou Concatedral onde se adora a figura do Menino Jesus da Cartolinha, os miradouros sobre o Douro Internacional que divide Portugal de Espanha e ainda as lindíssimas amendoeiras em flor que exalam perfumes inebriantes. Em todo e cada um dos recantos respira-se paz e tranquilidade e como fizemos questão de experienciar, há sítios onde se escuta o silêncio!

A cerca de 20 kms, na localidade de Atenor foi criada a 9 de maio de 2001, a Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPGA), local de visita obrigatória e de que falaremos mais adiante. O Cruzeiro ambiental no Douro Internacional e com saída de Miranda, com cerca de 1h de duração é outro dos prazeres a que se pode entregar nesta magnífica zona onde também a gastronomia é excelente e variada com base nos produtos endógenos da região, a que se soma a excelência do tratamento dispensado pelas suas gentes aos visitantes, tudo fazendo para manter a sua identidade e onde a oralidade e a escrita em mirandês marcam forte presença.

Não é difícil deixarmo-nos apaixonar por estas belas terras.

  1. A CAMINHO DE MIRANDA

Como referido, o percurso foi iniciado em Lisboa, seguindo pela A1 e A23 até á Guarda, importante cidade da Beira Alta. A partir daí tomámos o IP 2 passando nas imediações de locais que também merecem uma visita: Trancoso e o seu Bandarra, Marialva, Mêda, Foz Côa a e as suas gravuras. Rapidamente atingimos a Barragem do Pocinho, uma das muitas que ajudaram a tornar o Douro navegável. Estamos entre o Alto Douro Vinhateiro e o Douro Internacional, separando este Portugal de Espanha numa fronteira puramente natural. Daí até Miranda do Douro o percurso é relativamente rápido e curto.

Ao longo do percurso e nos lameiros temos a produção pecuária em grande: vacas e ovelhas com as respectivas crias ocupam grande parte dos terrenos enquanto se multiplicam as oliveiras (ouro verde, o magnífico azeite) e as amendoeiras que exalam perfumes únicos das suas flores que as abelhas tão bem polinizam.

Entramos em Miranda do Douro e, desde logo, parte das ruínas do Castelo se assomam assim como as torres da Sé Catedral e imensas amendoeiras. Paz, silêncio quase absoluto, a dizer sejam bem-vindos à terra de Miranda.

  1. UM PERCURSO POR MIRANDA DO DOURO

Depois do check-in no Hotel que escolhemos, fomos almoçar. Existem vários restaurantes em toda a cidade e tinham-nos aconselhado o Restaurante Mirandés cerca de 200 metros após os Bombeiros Voluntários. Em boa hora o escolhemos para o nosso repasto. Simpatia e disponibilidade dos funcionários, com rapidez na resposta aos pedidos e a tradicional posta mirandesa em grande estilo e qualidade. As sobremesas também eram de muito boa qualidade e o preço final foi simpático.

Passámos a visitar as ruínas da antiga alcáçova do castelo, com um bom parque de estacionamento que nos permitia rapidamente chegar á zona central desta parte histórica. Um exemplo que muitos edis de viam aproveitar: é possível ir de carro ao centro da zona histórica, com bolsas de estacionamento grátis…

Iniciado o percurso na Muralha pré-românica (séc. X-XI), temos de seguida o Postigo da Barca (séc. XVI), a Igreja da Misericórdia (séc. XVI-XVIII), o Solar dos Buíças (séc. XV a XVIII), a Antiga Alfândega, a Capela de Santa Cruz (Séc. XVII – XVIII), as Portas principais da Cidade (séc.XIII-XVI), a Casa Burguesa, a Casa dos Cachorros Eróticos, o Paço Municipal (séc.XVII-XIX), a praça das Capas de Honras (um símbolo mirandês), a Câmara Municipal (séc.XVII-XIX), a majestosa Concatedral de Miranda, monumento nacional (séc.XVI-XVIII), o antigo Paço Episcopal, a igreja Convento dos Frades Trinos (séc. XVIII), o antigo quartel de S. José (séc.XVIII), o Chafariz do século XV e a Ponte e Fonte dos Cantos (séc. XVI) e terminando o percurso no aqueduto de Vilarinho (séc. XVII). História e monumentalidade cruzam-se em cada ponto da cidade e deste bonito percurso.

A somar a tudo isto, a beleza paisagística que os diversos miradouros sobre o Douro nos permitem desfrutar. Para concluir, o Cruzeiro Ambiental que parte da Estação Biológica Internacional e nos permite apreciar a imponência das fragas que se erguem até aos 250 metros acima do nível do rio. Espécies arbóreas únicas, lontras, corvos marinhos, patos bravos, águias reais, de Bonnelli e pesqueiras e grifos disputam as atenções dos passageiros que lotam por completo o barco de propulsão híbrida que é propriedade da Europarques- EBI. Às 11h e às 15h têm início estes percursos únicos do Douro Internacional.

Ao final do dia, com o céu limpo, é possível admirar as diversas constelações de estrelas e respirar profundamente um ar puro e fresco. Recolha-se cedo porque o dia seguinte vai exigir bastante energia.

 

  1. O BURRO MIRANDÊS - Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPG)

A cerca de 20 kms para Oeste de Miranda do Douro, na aldeia de Atenor, desenvolve-se há quase 20 anos um importante projecto para a protecção do Burro Mirandês, raça que ainda se encontra em vias de extinção apesar dos esforços desta equipa liderada por Miguel Nóvoa e que ao longo destes anos tem conseguido excelentes resultados.

Segundo o site da AEPG (https://www.aepga.pt/area/raca/):

“À volta da ideia de preservação e proteção desta raça e dos asininos em geral, foi criada a 9 de maio de 2001, a Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPGA). Para cumprir estes objetivos, tem-se dedicado à realização de estudos técnico-científicos que visem a preservação do património genético da raça, nomeadamente o estudo da consanguinidade, reconhecimento e recuperação de antigas características reprodutivas e de maneio da raça a médio-longo prazo; a selecionar, do ponto de vista genético e morfológico, os animais que possam vir a obter melhores descendentes, avaliar os reprodutores através das provas morfofuncionais; a sensibilizar e formar os criadores para obtenção de melhores exemplares da raça; a valorizar e dignificar esta raça como um excelente animal de companhia, como prestável animal de trabalho e de transporte; a promover uma variedade de eventos, revitalizando antigos costumes e incentivando os criadores para novas utilidades da raça que assegurem um futuro sustentável deste património genético.

Após a definição do Padrão da Raça, o Regulamento do Registo Zootécnico foi aprovado pelo Ministério da Agricultura, Desenvolvimento Rural e Pescas (MADRP), em 20 de junho de 2002.

Nesse mesmo ano, realizou-se o primeiro censo para apurar o efetivo do Burro de Miranda que apontou para a existência de cerca de 930 fêmeas e de 20 machos reprodutores, números que, de acordo com os critérios da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), colocavam o Burro de Miranda na lista de animais ameaçados de extinção. Tendo em conta que mais de metade dessas fêmeas não estava a criar, quer por terem ultrapassado a idade fértil, quer por vontade dos seus proprietários, o panorama era particularmente preocupante.

Neste momento, e de modo a auxiliar a reconstituição do historial da espécie e das condições que proporcionaram a origem desta raça autóctone, está a ser constituído um banco de DNA da raça, através da colheita de sangue para determinação do genótipo de todos os animais inscritos no Livro Genealógico, o que fornecerá informação relativa à paternidade dos atuais representantes da raça. A AEPGA está assim a proceder à identificação de todo o efetivo inscrito no Livro Genealógico da Raça através da implantação de um microchip que veio substituir os métodos de identificação usados habitualmente, com grandes vantagens em termos de capacidade de retenção de informação.

Refira-se que a sensibilização dos proprietários e, de certa forma, o estímulo pelo gosto e brio na seleção e maneio de asininos com estas características, são atividades de importância fulcral na salvaguarda deste recurso genético.”

Na visita que efectuámos a este santuário natural, com condições naturais únicas tivemos o privilégio de ter como cicerone a simpatiquíssima Cláudia que há 9 anos aí se radicou e que nos transmitiu toda a paixão que a move junto destes animais e que acabou por se transmitir a todos quantos aí estávamos. Uma burrinha com uma semana de vida acabou por se tornar na atracção principal e deliciar todos com as suas brincadeiras.

  1. OUTROS MOTIVOS DE INTERESSE

Perto de Atenor está Palaçoulo, famosa pelas suas cutelarias.

A localidade de Picote tem um deslumbrante miradouro sobre o Douro num local conhecido como Fraga do Puio, recém- construído depois de um incêndio em 2017 ter destruído o anterior. Paisagem de cortar a respiração.

E pronto, está a acabar-se o fim de semana prolongado que dedicamos a etas Terras de Miranda e ao Planalto Mirandês. Esperam-nos mais 5 horas de viagem até Lisboa e a vontade de por aqui ficar é grande. Os mirandeses merecem bem a nossa e a vossa visita.

Textos: António Lúcio e https://www.aepga.pt

Créditos fotográficos: António Lúcio e Dina Pelicho